Promotor
Centro Artes Espectáculo de Viseu, Assoc. Cult. Pedag.
Sinopse
O psicanalista Carl Jung dizia que a sua linguagem devia ser ambígua e de duplo sentido porque só assim ela faria justiça à nossa natureza psíquica. Para ele, a união de elementos que habitualmente estão em oposição, sobretudo o inconsciente e o consciente, seria a única forma de conseguir chegar a uma nova atitude. O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro faz notar que, aquilo que para um ocidental pode aparentar ser uma série de elementos contraditórios, para os indígenas brasileiros pode ser um conjunto de elementos perfeitamente conjugados e que se apresentam fazendo absoluto sentido, podendo mesmo constituir algumas das características basilares dos povos originários. [...] O professor de ética Jonathan Haidt preocupa-se com o futuro dos seus alunos, que diz estarem encerrados em bolhas politicamente corretas, e aconselha-os a percorrerem mundo para serem capazes de Contradição e Oposição, que são elementos constitutivos da própria natureza do mundo*. Uma educação para a cidadania será uma Educação para a Multiplicidade e para a
Contradição? Educação para o Susto?
VERA MANTERO
*Couturier, B. 2018. Safe spaces : des étudiants qui ne supportent plus la contradiction [online]. Disponível em France Culture [consultado a 29 Junho 2021]
[...] há manipulação e alteração, questionamento sobre os estados físicos das coisas e emergência de entidades, de máscaras e de vozes. Com efeito, com "O Susto é um Mundo" estamos perante um sistema de relações radicais entre heterogéneos em que a coreografia se desloca para aquém do simples desenho de movimentos. Esta peça torna-se assim, simultaneamente, o reconhecimento do espanto perante as possibilidades que a vida oferece, um jogo que precede as suas próprias regras, uma pesquisa sobre processos de constituição de uma possível materialidade do inconsciente e a assunção de uma diversidade não normativa, de uma diversidade que está constantemente a borbulhar na superfície da terra. Ao mesmo tempo, a proposta que Vera Mantero nos traz - com a preciosa colaboração de Henrique Furtado Vieira, Paulo Quedas, Teresa Silva e João Bento - acrescenta ironia àquela espécie de dúvida visceral sobre o sentido das coisas e sobre o nosso modo de as habitar. Mas há também, mais do que nunca, uma delicadeza, uma atenção ao gesto, aos seus recortes e ao seu impacto sobre os outros, humanos e não humanos. Algo Precioso.
DANIEL TÉRCIO
Jornal de Letras, Artes e Ideias, 1 de dezembro de 2021
Ficha Artística
Direção artística Vera Mantero Cocriação e interpretação Henrique Furtado Vieira, Paulo Quedas, Teresa Silva Desenho de luz Leticia Skrycky Criação sonora e interpretação João Bento Cenografia e adereços João Ferro Martins Figurinos e adereços Marisa Escaleira Assistência Vera Santos Participação na pesquisa Vânia Rovisco Produção O Rumo do Fumo Coprodução Teatro Municipal do Porto, Centro Cultural Vila Flor, Culturgest Fundação Caixa Geral de Depósitos e Teatro Viriato Apoio à residência artística Centro de Experimentação Artística/Município da Moita, Companhia Olga Roriz, Estúdios Victor Córdon Agradecimento Paróquia de St. André e St.ª Marinha à Graça
O Rumo do Fumo é uma estrutura financiada por República Portuguesa Cultura Direcção-Geral das Artes e Câmara Municipal de Lisboa Projeto cofinanciado pelo Garantir Cultura, Compete 2020, Portugal 2020 e União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional FEDER
Informações Adicionais
Espetáculo acessível com Audiodescrição e Língua Gestual Portuguesa